LIVRO: Dercy de Cabo a Rabo (abril 2024)

Eu sou meio alheia a TV, tenho preguiça, mas vi que essa semana passou uma minissérie com base na vida da Dercy Gonçalves e lembrei que já havia lido a bibliografia dela.

Eu gostava muito da Dercy… Eu gostava da inteligência latente, do humor escrachado, dos palavrões, da ironia sem fim, do lado aventureiro, do fato de ela ter vivido tudo o que quis. Mas eu gostava muito mais da franqueza absoluta e da naturalidade assustadora com que ela falava dos seus traumas, medos, erros, casamentos desfeitos, frustrações…

Eu gosto dessa franqueza, sobretudo porque se opõe ao eterno comercial de margarina que é a imagem de vida da imensa maioria das pessoas.

A Dercy era uma artista, no sentido bruto da palavra… Tinha rompantes de gênio e uma vitalidade notável… Era desabusada, agressiva, terna, sincera…Foi uma pessoa que viveu como se não tivesse nada a perder, e por isso seus 101 anos de vida foram tão bem vividos.

Sua história de vida se confunde com a história do teatro nacional, sua eterna paixão e fonte de vitalidade

O livro é em primeira pessoa, com a Dercy falando dela mesma… Acho de uma lucidez absurda algumas de suas constatações. Confiram:

“Quem sou? sei lá! Não sei quem sou! Fui tanta coisa. Eu fui tudo.”

“O que para os outros é palavrão, pra mim nunca foi. É pontuação. Palavrão não é o que você diz, é o que você faz.”

“Mas eu não sou velha. Velho é quem está caduco. Velhas são as pessoas que não tem mais o que fazer, que ficam encostadas, incomodando. Mas uma mulher como eu, que ainda trabalha, briga e raciocina…estou uma beleza, eu sou uma beleza!”

“Eu me acho linda da cabeça aos pés, e quem não achar que se dane.”

“Não minto, não me violento, não me reprimo.”

“Acredito em poucas coisas, duvido de muitas. Nem no sucesso eu acredito. Quando o pano abaixa, quando o palco escurece, volto a ser aquilo que sou.”

“Sou forte, estou viva porque não desisti de sonhar.”

“Eu sempre vou ganhar, porque tenho muita força interior. Eu caio e me levanto. Levei muito susto, mas procurei não sofrer. O que perdi, acho que não era pra ser meu, se fosse pra ser, não perderia.”