Esse post era pra ter saído ontem, mas como por aqui a internet da Oi é Tchau, só consegui postar hoje…
É que ontem começou a primavera, que para os místicos é o Sabbat de Ostara, para os astrologos é quando o sol entra em libra e para os japoneses é o Hanami.
Independente do nome que se dê, a primavera é tempo de ver a vida florescer… É tempo de renovação, é quando a gente tem que deixar o velho ir embora para que o novo venha, ou, como diz naquele livro que mandei para vocês ( Mulheres Que Correm Com Os Lobos), é tempo de “deixar morrer o que precisa morrer e viver o que precisa viver”.
Eu sei que quase ninguém dá muita importância pra isso, mas como eu sou meio “velhinha” e adoro plantas sempre celebro a entrada da primavera plantando flores no meu jardim… Esse ano, antes de plantar as flores, retirei as ervas daninhas, as pedrinhas, os galhos secos… Mexi na terra, acrescentei adubo, limpei em volta, molhei e joguei a semente…
Isso serve como metáfora do que a gente precisa fazer na vida de vez em quando… É preciso limpar da alma as ervas daninhas e o que não serve mais, excluir da vida aquilo que já não tem porquê, esquecer o que de ruim aconteceu, remover mágoas e ressentimentos, pois só assim a gente abre espaço pro novo. Mexer e adubar a terra é o mesmo que abrir as portas do coração pra semear e esperar o melhor. É “plantar” novos sonhos, traçar novas metas e enriquecer nossa alma com sentimentos de amor e de alegria.
Jogar a semente e cuidar do jardim é fazer a primavera florescer dentro de cada um de nós. É tempo de renascer, meninas… Tempo de acreditar no novo, no belo, de se maravilhar com a vida que explode em novas possibilidades, de se assombrar com a beleza de tudo o que a gente pode ser e fazer…É tempo de enxergar a vida com os olhos da alma e de plantar o melhor pra receber o melhor, já que a vida sempre floresce de acordo com a semente que a gente planta.
E como foi com ela, Cecília Meireles, que eu ” aprendi (com a primavera ) a deixar-me cortar e voltar sempre inteira” , vou finalizar o post com um de seus textos ( as partes rosinhas são as que mais gosto…):
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Já viram que hoje tô superrrrr sentimental né? Acontece, quase sempre… Principalmente quando eu tô doentinha, como hoje! Aff, quem inventou virose??? Esse merecia uma vassourada mesmo!
Beijos, bom final de semana e juízo (seja lá o que isso signifique…kkkk)!
Ju