A maioria das chamadas doenças modernas é definida numericamente. Se sua pressão arterial estiver acima de certo número, por exemplo, você é diagnosticado como hipertenso e é medicado. Se estiver abaixo, você não é. Simplesmente assim.
Existem diversas outras enfermidades em que você pode ser enquadrado como portador simplesmente se estiver fora dos números fixados, e mesmo se não tiver nenhum sintoma aparente. Ao estabelecermos estes números, os médicos tentam fazer um diagnóstico precoce e desta maneira, prevenir consequências graves, com um ataque cardíaco no caso de hipertensão.
O diagnóstico precoce é uma faca de dois gumes. Se ele tem o potencial de salvar vidas, também carrega um perigo grande, a excessiva detecção de anormalidades que nunca os incomodam e talvez nunca incomodariam. Muitas pessoas diagnosticadas com diabetes, hipertensão ou osteoporose jamais desenvolveriam os sintomas e nem morreriam destas doenças. Isso acontece principalmente quando os casos são leves. Mas podem correr riscos de mesmo assim, ao serem medicados, terem efeitos colaterais indesejáveis, o que acarretaria em novos exames, novos remédios e novas doenças.
As regras numéricas para definir doenças são importantes e determinam o que chamam de ponto de corte. Se você passa um número acima, é chamado de doente. Um número abaixo, é considerável saudável. Esses pontos de corte são resultados apenas de um processo científico. E ainda mais do que isso, envolvem também julgamentos de valores e até mesmo interesses financeiros.
Com o passar dos anos, diversos pontos de corte foram alterados significativamente. Ainda que isso tenha ocorrido com as melhores intenções, o resultado é que aumentaram em demasia os diagnósticos e os tratamentos de pessoas que potencialmente nunca ficariam doentes.
Pense na seguinte situação: Você se sente bem, mas alguém lhe sugere exames para saber se seus ossos estão suficientemente fortes, uma vez que a osteoporose é uma doença grave. Os exames revelam que sua densidade óssea está um pouco abaixo da média para sua idade e você é aconselhada a tomar medicamentos para evitar o risco de fraturas. Três medicamentos, uma úlcera de esôfago como efeito colateral, e três especialistas depois, dizem que agora você pode ter câncer de tireoide. Trata-se de um caso clássico de eventos em cascata.
Seria fácil então, mudar as regras para alterar os números e redefinir o que seria considerado normal. A discussão pararia por aí. Mas infelizmente, não existe um método matemático ou uma equação que defina quem é normal e quem não é. Precisamos sim, pensar no paradoxo que hoje se tornou a promoção da saúde e que para serem saudáveis, as pessoas precisam procurar doenças?
Portanto meninas, vamos procurar um especialista no caso de desconfiança de alguma doença e não porque fulano ou beltrano falou, não é?
Beijos, Rogéria.