Imagine a seguinte cena: duas crianças fazendo um lanchinho na escola. Uma delas está comendo um enorme pirulito tingido de azul. A outra criança está comendo um morango fresco, vermelhinho. Qual delas fez a melhor escolha, a mais saudável? Boa parte das pessoas que as veem vai responder que comer um morango traz mais benefícios à saúde do que um doce industrializado, ainda mais um pirulito supercolorido. Afinal os corantes dos pirulitos são evidentementes tóxicos.
Pois bem, esta idéia é um mito. O morango fresquinho na mão da criança, se estiver impregnado de agrotóxicos, o que é bastante comum no Brasil, pode ser muito mais prejudicial para a saúde do que um pirulito com aditivos químicos, desde que não seja lotado de açúcar, outra fonte de problemas. No máximo, a criança vai ficar com a língua colorida. Além disso, em breve esse corante e outros aditivos, será expelido pelo organismo. Bem diferente do que acontecerá com os defensivos agrícolas que se acumularão em seu corpo ao longo da vida.
Agrotóxicos, esses sim, estão diretamente relacionados ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer. Eles foram desenvolvidos na época da Primeira Guerra Mundial, e depois usados em larga escala durante a Segunda, como arma química. O agente laranja, por exemplo, utilizado como desfolhante nas florestas durante os combates da Guerra do Vietnã e que matou milhares de pessoas, nada mais é do que a combinação de dois tipos de herbicidas a uma certa concentração. Anos mais tarde, os defensivos agrícolas passaram a ser utilizados nas lavouras numa tentativa de promover e ampliar a agricultura e assim, acabar com a fome no mundo. Diga-se de passagem, o Brasil é campeão de utilização desses venenos.
Já os corantes fazem parte da cartela dos aditivos químicos. Existem cerca de 20 mil tipos, ou seja, mais de 3 mil aprovados pelo FDA, o órgão que regulamenta remédios e alimentos nos Estados Unidos, entre eles acidulantes, antimicrobianos, adoçantes, texturizantes, estabilizantes, antioxidantes e enzimas.
Apesar de terem uma péssima fama, esses produtos passam por testes antes de entrarem no mercado e até hoje há poucos relatos expressivos sobre sua malignidade e sua capacidade de causar alergias ou outras doenças. Basta lembrar que um adulto consome cerca de 70 quilos de aditivos por ano em sucos, iogurtes e alimentos industrializados de maneira geral, acrescentados para que ajudem a conservar, deem cor, sabor ou confiram maior valor nutricional a esses produtos.
Os sulfitos (sais de sódio e de potássio) provavelmente são os aditivos mais usados na indústria, principalmente para manter os alimentos frescos. Eles impedem o escurecimento dos legumes e frutas depois de cortados e não permitem que vinhos se tornem vinagres, por exemplo.
Em um estudo de 1988 envolvendo 75 pacientes com urticária crônica, nenhum deles respondeu ao teste de provocação feito com sulfitos. Por causar broncoespasmos em pessoas sensíveis, no entanto, sua utilização em alimentos frescos foi banida nos Estados Unidos. Mas em baixo teores, os sulfitos são considerados seguros.
É comum, ver pais chegarem em consultórios suspeitando dos corantes, que são os primeiros vilões imaginários. Mas ao ser investigado, constatam-se que há substâncias mais perigosas. Como muitos legumes, verduras e frutas com agrotóxico.
Lógico que as crianças vão preferir pirulitos coloridos, não é meninas?
Beijos, Rogéria.