Quem acompanha o blog há mais tempo já me “viu” falar da Kaka, minha vizinha de (agora) 10 anos, aquela que acha que eu já estou em uma idade avançada. Pois bem, a Kaka é uma menina linda, do jeito dela, com uma beleza que só ela tem e hoje ela me falou uma coisa que me deixou horas “pensando”.
Ela estava aqui em casa olhando revistas e, certa hora, falou assim: “Tia, essas meninas (modelos) devem ser tão felizes, né?”. Fiquei sem entender e perguntei o porquê, daí ela respondeu assim: “Ah tia, porque elas são tipo princesas, tem o cabelo bonito, a boca bonita, o olho bonito, usam coisas bonitas, tem iPhone, então elas PODEM ser felizes e quem não tem nada disso não PODE.”
Aí perguntei o que, para ela, era uma boca, cabelo, pele, olho ou coisa bonita e ela me disse, em resumo, que era olho de Barbie, cor de Barbie, cabelo de Barbie, pele das moças da revista e roupas e coisas novas.
Parei um pouco, fiquei olhando para ela, que é bem morena, cabelo cacheado, olhos escuros, traços mais grossos e roupas como as de (quase) todas as crianças e me perguntei até onde essa onda de “semi-deuses”, com mulheres supostamente perfeitas e impecáveis sendo “vendidas” como o ideal de felicidade vai nos levar.
Me chocou ouvir uma criança de 10 anos falando isso e perceber o quanto ela se sente deslocada por não se enquadrar no que, para ela, pelo que foi colocado na cabecinha dela, seria o ideal. E me chocou saber que ela, assim como centenas de milhares de meninas, vai crescer acreditando em tudo isso, acreditando que para ser feliz ela tem que ser perfeita, tem que ter coisas e que a beleza dela, por não ser o “retrato” do que é imposto, não serve, não tem valor.
Me dói saber que ela, assim como tantas outras, vai crescer insatisfeita com sua beleza, se desvalorizando e, pior, acreditando que só será “valorizada”, amada e feliz se a sua imagem, se a sua aparência, for “perfeita”. Me dói ver que ela vai se comparar com um padrão irreal, que não existe na vida das pessoas “de verdade” e que vai se “diminuir” quando ver que ela não se encaixa naquilo.
E me dói porque sei quantas pessoas passaram, passam e ainda vão passar por isso, tendo seu “autoamor” no chão por uma coisa que simplesmente não existe.
Não importa o tamanho do seu nariz, se o seu cabelo é cacheado ou liso, a cor do sua pele ou a roupa que você veste, você tem que ter certeza, sempre, que a mulher mais linda do mundo é você. Sim, você, exatamente você, que se cobra tanto, que vê milhares de supostos defeitos em si mesma.
O mínimo que você pode fazer por si mesma é se aceitar, se valorizar e se amar, assim, do jeitinho que você é, porque felicidade não tem nada a ver com o tamanho do seu nariz, da sua boca, a cor dos seus olhos ou da sua pele. Felicidade vem de dentro e para a gente ser feliz, a gente tem que se respeitar e se amar como a gente é.
Beijos
Ju Lopes