Sempre achei muito importante saber como se dá o processo de aprendizagem na alimentação, bem como de onde vem os nossos hábitos alimentares, sabe?
Pra explicar isso melhor, ouvi a nutricionista Tamires Medeiros, que deixou as coisas bem claras. Vejam só:
“Inicialmente, a psicologia fisiológica demonstrou que a percepção interna de fome e saciedade era a responsável pela alimentação. Nesse momento surgiu a noção de homeostase, o equilíbrio fisiológico interno do organismo, que entende a alimentação como uma resposta não assimilada da sugestão à sensação de fome. Apesar disso, a homeostase acredita que a ingestão alimentar pode ser aprendida.
Nos dias atuais, existem inúmeros estudos relacionando à aprendizagem, os padrões alimentares, a experiência individual de alimentação e as respostas fisiológicas ao comportamento alimentar.
Esses estudos que investigam a aprendizagem na alimentação têm como procedimento padrão o “paradigma do condicionamento de preferências alimentares”, que tinha como fundamento as teorias de Pavlov, que entendia que a aprendizagem seria uma resposta a estímulos condicionais, que se adquire pelo condicionamento respondente ou condicionamento reflexo.
O condicionamento reflexo resulta da somatória dos estímulos e das respostas incondicionadas obtidas através d e um processo de treinamento e repetição.
Assim, a aprendizagem alimentar utiliza métodos que tem por base esses paradigmas justamente para alterar as preferências alimentares. Esses métodos são chamados de aprendizagem sabor-sabor, aprendizagem nutriente-sabor e aprendizagem pela exposição repetida e pela mera exposição.
A aprendizagem sabor-sabor associa o sabor ao prazer e se mantém até que seja substituída por uma experiência alimentar que a neutralize. Alguns estudos realizados com animais comprovaram que ao se associar um alimento desconhecido ou não preferido com um sabor favorito a aceitação do alimento desconhecido/não preferido torna-se maior devido a associação dos sabores.
Sabe-se que a percepção do sabor abarca, basicamente, o doce, o azedo, o amargo e o salgado, sendo que a percepção do sabor adocicado acontece desde a fase pré-natal, o que faz desse o sabor naturalmente preferido.
Assim, têm-se que a associação de um alimento desconhecido à um alimento doce o torna mais fácil de ser aceito.
No processo de aprendizagem nutriente-sabor, também chamada de caloria-sabor, o padrão é bastante parecido com o de aprendizagem sabor-sabor. Aqui, um alimento nutritivo e bastante calórico gera a sensação de saciedade e somada à sugestão do sabor, promove uma maior aceitação do alimento desconhecido.
Os alimentos mais calóricos são mais aceitos devido ao aumento de saciedade e também ao atraso entre a sugestão do sabor e a consequência nutricional.
Ademais, os alimentos com alto teor de gordura, assim como os doces, são os mais consumidos pela população, além de serem mais saborosos, e por isso a aprendizagem nutriente-sabor gera uma preferência pelos alimentos mais calóricos.
Alguns estudos indicam que os vegetais e os alimentos desconhecidos devem ser consumidos ao final da refeição para que o individuo, principalmente as crianças, associem o sabor do vegetal á sensação de saciedade que foi provocada pelos alimentos anteriores.
Experimentos feitos com crianças investigaram sea preferência por determinados sabores pode ser condicionada por meio da associação repetida com alimentos calóricos ou não, resultando na constatação de que o condicionamento pela preferência de sabores pode estar relacionado com a consequência pós ingesta positiva de determinado alimento calórico.
A aprendizagem pela exposição repetida ou mera exposição se baseia na familiaridade da criança com os alimentos como forma de aceitação do alimento sugerido.
A exposição repetida a um determinado alimento, não apenas pela visualização e pela percepção do cheiro, mas também e principalmente pela ingestão, mesmo que em quantidades mínimas gera uma familiarização com aquele alimento, condicionando uma maior aceitação do mesmo.
Essa repetição, mesmo diante da negativa da criança, é importante até mesmo para reduzir a neofobia alimentar.”