O livro de hoje é um relato de Jill Bolte Taylor, uma neurocientista do Banco de Cérebros de Harvard, sobre a destruição do que foi, durante anos, seu objeto de estudo: a anatomia cerebral e a interligação entre os hemisférios direito e esquerdo.
Jill, que passou a vida estudando o cérebro humano, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (derrame) e em quatro horas viu seu cérebro se deteriorar, o que resultou na perda total da capacidade de falar, andar, ler, escrever e lembrar-se de qualquer fato de sua vida.
Não é um livro científico, nem de autoajuda, mas tem um pouco dos dois, porque foi a experiência de uma pessoa altamente capacitada (parte científica) que teve que reaprender TUDO do zero com meios muito pouco convencionais.
Esse livro é uma preciosidade justamente por fazer cair por terra muitas das “verdades” científicas atuais. Quem tem algum conhecido/parente/amigo que já passou por algum problema cerebral já deve ter ouvido, por exemplo, que a recuperação do cérebro pára após os seis meses. Pois a recuperação de Jill durou anos e o cérebro não parou e continuou a responder, tanto que ela se recuperou completamente e dá aulas de neuroanatomia.
Outra coisa que a experiência dela mostrou é que a hiper estimulação não é benéfica nesse caso e que o sono, ao contrário do que dizem, é o melhor remédio para a recuperação do cérebro justamente para que ele não precise ter o trabalho de processar a estimulação excessiva.
Isso mostra o quão pouco sabemos sobre o cérebro e como determinadas verdades devem ser encaradas com parcimônia.
No livro, a autora conta todo o processo de recuperação e propõe meios de silenciar o cérebro e aprender a viver de forma diferente.
Para isso, ela propõe atividades sensoriais com aromas e sons, meditação, oração, dentre outras coisas.
É uma história bem envolvente, que mostra, dentre outras coisas, o incrível poder de recuperação, ainda desconhecido, do cérebro humano.
Recuperação após o derrame:
10/12/1996: Jill sofre um AVC.
17 Dias: Submete-se a uma cirurgia, que tira um coágulo do tamanho de uma bola de golfe.
5 Semanas : Recupera o diálogo interno – a capacidade de “ouvir” os próprios pensamentos.
3 Meses: Volta a dirigir.
4 Meses: Consegue dar uma palestra de 20 minutos, que havia sido agendada antes do derrame. Para isso, estuda vídeos antigos de suas próprias palestras de passa um mês treinando.
2 Anos: Tenta reconstruir as lembranças relativas à manhã do AVC. É contratada pelo Rose Hulman Institute of Technology, em Indiana, para lecionar nos cursos de anatomia e fisiologia e de neurociência.
3 Anos: Volta a jogar paciência.
4 Anos: Após quatro anos andando 5km por dia, com pesos nas mãos, consegue caminhar com um ritmo estável. Recupera a capacidade fazer operações matemáticas simples, como somar, subtrair e multiplicar. Consegue realizar tarefas simultâneas, como falar ao telefone e cozinhar ao mesmo tempo.
5 Anos: Consegue realizar contas matemáticas de divisão. Ao final do ano, consegue pular de pedra em pedra na praia sem olhar para onde os pés estão pisando.
6 Anos: Alcança uma meta antiga: ter energia suficiente para subir os degraus das escadas de dois em dois.
7 Anos: Começa a dar aulas no Departamento de Cinesiologia da Universidade Indiana. Reduz a necessidade de sono noturno de 11 horas para 9 horas e meia. Volta a ter sonhos com estrutura narrativa.
8 Anos: Experimenta uma mudança na percepção do próprio corpo e declara que “embora tenha comemorado voltar a ser alguém sólido, senti falta de me perceber como fluida. Sinto falta da lembrança constante de que somos todos um.
Vale a leitura.