Lembram que duas semanas atrás convidamos uma nutricionista pra responder algumas dúvidas? Pois hoje trouxemos outra convidada, a Maria Lúcia Silva, pós graduada em Gerontologia, que vai falar um pouquinho sobre o processo de envelhecimento feminino.
O número de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente que a de qualquer outra faixa etária, e isso tem acontecido em grande pare do mundo. Só pra ter uma ideia, entre os anos de 1970 a 2025 espera-se um crescimento de até 223%, algo em torno de ou 694 milhões no número de “pessoas mais velhas”. A projeção é de que no ano de 2025 existirá um total aproximado de1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos, e isso pede algumas medidas, afinal, nunca na história da humanidade tivemos uma quantidade tão grande de pessoas acima de 60 anos.
Esse envelhecimento da população revela a chamada “feminilização” do envelhecimento, já que as mulheres vivem mais que os homens, e isso leva a consequências e questionamentos em relação não só às políticas sociais para atender as necessidades, mas também a questão da saúde e da beleza. Estudiosos afirmam que a feminilização do envelhecimento é um conceito associado a evidências de mudanças tanto nas normas quanto nas expectativas relativas ao que se espera das mulheres na “passagem” para a velhice.
Nós vivemos mais não apenas em razão de fatores biológicos e genéticos, mas também porque somos menos propensas a riscos de acidentes em geral, consumimos menos cigarro e menos álcool, conhecemos melhor o nosso organismo e identificamos mais facilmente sintomas de possíveis doenças e procuramos com mais frequência os serviços de saúde.
Mas, ter uma maior expectativa de vida significa passar mais tempo na “velhice”, esse processo contínuo que gera mudanças diversas no nosso estilo de vida. Processo esse, aliás, que é bem complexo e ainda pouco conhecido no tocante as implicações que ele gera pra pessoa e pra sociedade.
O envelhecimento é uma experiência que pode apresentar diferentes vertentes, vez que está sujeita a influências diversas no que diz respeito aos contextos sociais, históricos e culturais e é também um processo dinâmico onde ocorrem modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas, de modo que é preciso investigar e compreender como esse fenômeno afeta os envolvidos, sobretudo as mulheres.
Apesar de ser um acontecimento universal, o envelhecimento é individual e em cada pessoa vai se apresentar e evoluir de um jeito único. As mudanças que vão ocorrer estão, na maioria dos casos, relacionadas a marcadores biológicos, mas também a condições ambientais e comportamentais, e essas mudanças precisam ser analisadas em sua totalidade.
Aqui vale ressaltar que os parâmetros socioculturais nos quais cada mulher está inserida interferem de forma direta nas suas emoções e na sua visão acerca do envelhecimento. Dessa forma, tem-se que o envelhecimento feminino precisa ser analisado conforme a interação de traços individuais, determinantes culturais e marcadores biológicos, vez que esse é um fenômeno no qual a mulher “reage”, é dizer, no qual ela não é somente um “sujeito passivo”, já que a sua reação a esse fenômeno envolve suas próprias referências culturais e também pessoais e emocionais.
Isso quer dizer, de forma simplificada, que o envelhecimento, sobretudo para as mulheres, envolve particularidades características únicas, de forma que cada mulher, embora passando pelo processo que envolve tanto o aspecto cronológico quanto o declínio de suas funções biofisiológicas, manifesta esse envelhecimento de forma individualizada e diferente de qualquer outra.
As mudanças psicológicas, emocionais e físicas que são inerentes ao envelhecimento associada aos fatores genéticos, que são individuais, bem como o modo como cada uma vai lidar com esse processo são determinantes na forma como essa etapa da vida será vivenciada por elas, o que resulta na conclusão de que o envelhecimento feminino não é, de forma alguma, um processo homogêneo.
Em todos os organismos multicelulares o processo evolutivo caracteriza-se pela redução das chances de sobrevivência após a maturidade, e essa fase é precedida pelo chamado “desenvolvimento”, de modo que este último conduz ao envelhecimento, que acaba gerando o declínio das funções corporais, o que ocasiona, dentre muitas outras coisas, disfunções diversas no organismo, disfunções essas que são causas determinantes para doenças características da idade. Aqui vale ressaltar que os fatores genéticos podem ocasionar ou estar associados ao surgimento de doenças crônico-degenerativas.
Muitos entendem o envelhecimento como um evento que gera perdas e limitações, e a medida que a mulher envelhece é como se ela deixasse de ser mulher, já que muitos não enxergam uma mulher de 60 anos, por exemplo, como mulher propriamente dita, com feminilidade e sexualidade ativa. Isso é bem comum aqui no Brasil, por exemplo, mas em países como a França a visão a outro, porque, por razões culturais, a mulher lá é vista como mulher independente da idade.
Aqui vale ressaltar que a idade cronológica não está necessariamente relacionada com o envelhecimento, mas sim com a velocidade de declínio de determinadas funções orgânicas, fisiológicas e psicológicas, por exemplo. Os sinais do envelhecimento na mulher são, não raras vezes, relacionados com manifestações de um estado patológico, como se o envelhecimento fosse uma doença a ser combatida, o que é um erro.
O envelhecimento em si não é causador de doenças crônicas, vez que essas, na maioria das vezes, tão muito mais relacionadas com o estilo de vida do que efetivamente com o fator idade. Quando a pessoa leva uma vida sedentária, quando fuma, quando não se alimenta direito e não cuida da sua saúde ela é muito mais propensa a ter doenças crônicas, e isso independe de idade, embora possa ser intensificado por esse fator. Assim, quem cuida da saúde, do corpo e do bem-estar ao longo da vida, quem tem, enfim, qualidade de vida, tem uma probabilidade muito maior de permanecer sadia no processo de envelhecimento. Resumindo: não é a velhice que provoca a doença, são os hábitos durante toda a vida.
É fato que a chamada “meia-idade”, bem como o envelhecimento, não são processos estáveis, ao contrário, são fases bem conturbadas, assim como a adolescência, por exemplo, já que são muitas as mudanças biológicas, sociais e afetivas que acontecem, e tudo ao mesmo tempo. Essa quantidade de mudanças gera sim um estresse grande e é normal que a mulher se desestruture, mas aos poucos ela vai se readaptando, e não só em relação a questão social, mas também a si mesma, ao seu corpo e a sua cabeça. É dizer, a mulher vai precisar se redescobrir, e descobrir formas de lidar e vivenciar esse novo eu.
Não existe, na verdade, um número de tempo cronológico que defina essa fase da vida, e isso em termos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Sabe-se, contudo, que a vida “muda” aos 40, que é nessa idade que estamos “maduras”, por assim dizer.
Nessa fase de maturidade e, posteriormente, de velhice, a mulher passa por muitos acontecimentos importantes, já que a fase muda, a vida muda, e toda mudança, tudo o que é desconhecido, gera um certo temor. Além disso, desse temor frente ao novo, existe o medo de tantas coisas, as perspectivas novas ou a falta delas, e tudo isso acaba afetando mesmo, não só a mulher, mas o homem também, claro.
É importante salientar que o envelhecimento é um processo natural, e que deve ser vivenciado da forma mais natural e saudável possível de modo que a mulher possa, de forma gradual, se adaptar frente as novas possibilidades que se apresentam. Sabemos que a imagem feminina, bem como a autoestima da mulher, está relacionada a juventude, a beleza e também ao fator “procriação”, e o fim do período reprodutivo deixa evidente que um ciclo chegou ao fim, que abre-se uma nova “era”, uma nova fase, com características e exigências próprias.
Pelo que foi dito acima, fica claro que a menopausa delimita uma nova fase da vida da mulher na medida em que é um marcador biofisiológico da transição entre a vida reprodutiva e a velhice propriamente dita. Só que o processo de envelhecimento é gradual, ele não acontece de vez, de modo que as mudanças vão ocorrendo, e aqui estão inclusas as mudanças biológicas e fisiológicas, e deixando sinais claros de que o corpo está envelhecendo, já que as funções orgânicas vão, aos poucos, declinando.
É nessa fase que ocorre a depleção do estrogênio, o que afeta de maneira direta a estrutura do corpo e dos órgãos sexuais na mulher . As mudanças aqui são externas, como a estética, a beleza corporal, e interna, vez que os órgão sexuais também apresentam alterações significativas. Contudo, independente dessas mudanças, a forma como a mulher encara esse processo é bastante influenciada por fatores culturais, pelas tradições, pelo meio social em que ela está inserida. E por isso é tão importante que ela chegue nessa fase preparada para tal, preparada para as mudanças que vão ocorrer e pronta pra lidar com isso da melhor forma possível, vez que essa fase pode sim ser altamente prazerosa em diversos aspectos, desde que não se espere que tudo seja como era antes, desde que as limitações sejam entendidas e a velhice seja vivenciada como se deve.